quinta-feira, 5 de março de 2015

A cigana e a mocinha guardiã do tesouro

"A cigana leu o meu destino, eu sonhei. 
Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante eu 
sempre perguntei: o que será o amanhã? "
(Simone)


Aos quinze anos de idade, fui caminhar pela primeira vez na Avenida Paulista somente em companhia de uma amiga. Descemos no metrô Paraíso e seguimos a pé.

Logo na Praça Oswaldo Cruz, percebemos uma feira esotérica que naquela época (não sei hoje) era fixa no local e as pessoas que por ali passavam se divertiam muito descobrindo o seu “futuro”.

Minha amiga que era muito “esotérica” mais que depressa correu para uma cigana que lia as mãos, eu só ria. Não acreditava ”nestas coisas” e achava um desperdício ela gastar seu dinheiro com tamanha bobeira. Quando a cigana já havia descoberto todo o “futuro” da minha amiga, ela levantou para continuarmos nosso passeio, só que a cigana para minha surpresa, se dirigiu para mim e pediu para ver meu futuro...

Eu relutei, mas para não ser indelicada estiquei a mão e disse que era só para ela dar uma “olhadinha” que eu não ia me sentar. Ela olhou minha mão rapidamente, cinco segundos e me disse assim: “mocinha quando você for adulta, irá cuidar de um tesouro, com muitas pedras preciosas...” eu agradeci a estranha mensagem e parti.

Eu acabara de me matricular na escola de artes, meu sonho era ser arquiteta ou artista plástica, pode imaginar minha cara quando ela falou das tais pedras preciosas... Dei risada né! Nem de joias eu gosto, pensei... Que tesouro que nada!

Bom... A vida dá muitas voltas e na leveza da adolescência não desenvolvemos muita noção de futuro, só vivemos.

25 anos depois aqui estou eu, uma mulher de 40 anos e sou bibliotecária. Acho que no fim das contas, a minha querida cigana tinha razão, peço perdão para ela hoje, pela minha total falta de credulidade em suas palavras, mas ela não podia ter sido mais certeira do que foi comigo naquele dia, pois uma Biblioteca realmente é um grande tesouro e os livros preciosidades, para aqueles que conseguem entender e valorizar toda a riqueza que eles guardam.

Eu estudei artes, fui designer gráfica, diagramadora, quando menos esperava me encontrei dentro da Faculdade de Biblioteconomia e alguns meses depois percebi que tinha encontrado minha verdadeira vocação.

Amo ser Bibliotecária e amo mais ainda ter uma profissão que me permite fazer diferença na vida das pessoas.

Ao contrário da maioria da minha sala, eu desde os primeiros meses já desejava, se um dia conseguisse exercer a profissão, trabalhar em uma biblioteca pública, o que causava estranheza e contrariedade em todos meus colegas de classe que afirmavam que eu era “doida”, que era a pior biblioteca para se trabalhar. Mas...

É a biblioteca mais democrática, mais perto e mais acessível para aqueles que precisam de informação, conhecimento e cultura. Eu queria ser bibliotecária das pessoas com mais limitações, nos lugares onde era mais difícil a disseminação do hábito da leitura, eu queria trabalhar onde ninguém costuma querer, queria estar perto dos jovens e principalmente das crianças.

Hoje sou muito feliz com minha escolha e bem gosto do tesouro que Deus me deu para cuidar para ele. É o meu talento que não pretendo enterrar, mas sim dividir e multiplicar.

 Assim seja!