quarta-feira, 12 de março de 2014

12 de março: dia do Bibliotecário e da Biblioteca nossa de cada dia


            Sou Bibliotecária há dez anos destes, oito atuo em Biblioteca Pública. Desde a faculdade era o que desejava, porque tinha consciência da importância que este tipo de biblioteca tem para a comunidade onde está inserida. Sempre leio sobre a necessidade de modernização e ampliação do número de Bibliotecas Públicas no Brasil e estas questões me fazem pensar... 

Antes de chegar aqui, não tinha experiência alguma e o pouco que recebi foram informações muito negativas vindas de colegas que já atuavam nestas unidades e também dos próprios professores. Na época que estudei, a faculdade não dava muito ênfase aos conteúdos voltados para profissionais atuarem em Bibliotecas Públicas.

Mesmo assim meu ideal profissional prevaleceu e quis dar minha contribuição. Hoje após todos estes anos percebo que na realidade o problema não é a Biblioteca Pública em si, mas sim as pessoas ou setores que as conduzem dentro do sistema administrativo em que ela está inserida, o que quero dizer com isso? Que trabalhar em Biblioteca Pública pode ser sim muito bom! Na verdade precisamos de dois fatores somente para ter sucesso, muito simples, mas muito difíceis de alcançar: apoio e respeito.

Vejo que o poder público principalmente nas pequenas cidades (que são a maioria) não valoriza a Biblioteca Pública e faz muito pouco ou nada, para criar condições propicias que incentive o hábito da leitura na população. Não fosse o trabalho realizado pelas escolas e professoras aqui, por exemplo, se dependesse só da Biblioteca Pública haveria um cemitério de leitores.

Pelas experiências que vivi nos últimos anos e que acredito, sejam bem parecidas na maioria dos municípios brasileiros, penso que a única forma de tornar a Biblioteca Pública um setor realmente produtivo e relevante é dar autonomia legal para que ela desempenhe seu papel junto à sociedade. Tirar das mãos dos políticos e das prefeituras e dar para associações, grupos de pessoas interessadas juntamente com profissionais formados em biblioteconomia a autonomia para trabalhar, planejar e agir de acordo com demanda existente.

Criar leis que obriguem a destinação de verbas anuais de acordo com o tamanho da população e fazer com que os profissionais que atuam nestas bibliotecas simplesmente prestem contas exatas dos recursos utilizados e resultados alcançados. E assim, oferecer serviços informacionais de qualidade e realizar as atividades necessárias, sem estar constantemente “mãos estendidas” implorando.

No geral a rotina das Bibliotecas Públicas inclui: não ter verba oficial, não receber apoio para executar melhorias estruturais e físicas, não ter incentivo para projetos, não comprar livros, o que sempre existe são alguns poucos funcionários para atender os frequentadores e organizar o ambiente. Livros novos são poucos e quando são comprados, é com dinheiro de multas.

Sou Bibliotecária formada, concursada e atuo em uma Biblioteca Pública onde não tenho autonomia para fazer nada, não tenho direito a opinar, não sou ouvida, não sou consultada e fazem o que querem da Biblioteca Municipal, tenho de ver e ouvir passivamente tudo que decidem fazer sem poder intervir ou, evitar que falhas graves sejam cometidas.

Enquanto as Bibliotecas Públicas viverem sob o poder das administrações de visão restrita e limitada a interesses políticos, não haverá possibilidade de mudança da realidade em que elas estão inseridas e como sempre, o maior prejuízo fica para a sociedade. Não sei se a criação de leis que obriguem as prefeituras apoiarem, talvez tornar todas as Bibliotecas Públicas legalmente constituídas em órgãos federais, não sei se propiciar autonomia e ação de trabalho para os Bibliotecários pode mudar isso, mas o fato é que enquanto as Bibliotecas estiverem a mercê de política e administrações públicas, elas dificilmente sairão desta escuridão em que se encontram.

Só um exemplo: está para ser desativado onde trabalho um software de primeira linha, que conse­gui­mos com muito empenho adquirir e é de propriedade da Biblioteca. A informatização do acervo este ano entrou em fase final, pois há quatro anos trabalhamos com este sistema que é excelente e atende com eficiência as necessidades da biblioteca, dos leitores, mas enfim vai ser substituído.

Será desativado, por motivações externas que envolvem, além de outros fatores, o gasto de R$ 190,00 por mês que a prefeitura acredita ser desnecessário, haja vista que a atual empresa que ganhou a licitação possui um “módulo” para bibliotecas que pode ser utilizado ou seja, não há preocupação com o tra­balho executado até este ano, com o fato do novo software ser inferior, com os gastos feitos até o momento para o atual sistema funcionar (suporte e todo material utilizado nestes quatro anos), não há preocupação se haverá qualidade realmente nos serviços prestados. Com afirmações pouco consistentes, tentam nos convencer de uma mudança que não tem como ser positiva nem para a Biblioteca, tão pouco para os leitores.

Conclusão, de volta ao início: se o poder público deseja qualificar as Bibliotecas Públicas, criar novas, aumentar seus resultados e criar políticas de leitura, em primeiro lugar precisa fazer com que as Bibliotecas Públicas tenham seu valor, seus direitos reconhecidos e respeitados porque modernizar e multiplicar bi­bliotecas, formar profissionais para atuarem de forma eficiente e correta, mas que em seus ambien­tes de trabalho são obrigados a fazer e aceitar tudo que é errado, não nos ajuda em nada, só perpetra a situa­ção atual em que trabalhamos: à base de milagres e orações.

Sem apoio real, concreto e relevante, nada mudará. Espero com minhas palavras estar contribuindo de alguma forma e que o pequeno ponto de luz que eu teimo em manter acesso, apesar de todas as adversidades, possa se unir a vários outros e, fortes, ilu­minarmos a vida daqueles que precisam da luz do conhecimento. 


Sandra Küster, Bibliotecária por vocação há 10 anos



Um comentário:

  1. Parabéns, a vocês bibliotecários brasileiros, enfim para todos nós que amamos e respeitamos nossa profissão, incluindo você, Sandra, obviamente.

    Roses de Vicent van Gogh (1890) para bibliotecários, bibliotecárias, amigos e guerreiros de "bons combates" e para todas as pessoas que amam e respeitam as bibliotecas tradicionais, virtuais, eletrônicas, digitais, sem paredes...entre outras denominações a elas atribuídas.
    Amemos e respeitemos essas Organizações Sociais que, em última instância, devem ter condições plenas, política e tecnicamente falando, para honrar e cumprir o papel social que lhes compete, no sentido de atender demandas e superar expectativas de cidadãos. Pessoas/agentes sociais que necessitam de seu auxílio para resolver questões ligadas à solução de problemas através do uso de informação e de busca de novos conhecimentos das mais diversas ordens no contexto do mundo do trabalho, do estudo, da pesquisa propriamente dita, para entretenimento/lazer, entre outros motivos que justificam a existência e razão de ser das bibliotecas/unidades de informação sistematicamente organizadas. Locais, espaços sociais, por excelência, de propiciar e favorecer a geração e o compartilhamento de novos conhecimentos.
    Isso é uma pequenina parte do que penso sobre elas, as bibliotecas, claro!
    E que vivam e sobrevivam os bibliotecários brasileiros!...

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